quarta-feira, 4 de maio de 2016






     
O ANÃOZINHO VERDE

Um anãozinho verde que vivia
Na concha fura-cor de um caracol,
Subiu pelas montanhas, certo dia,
Para ir buscar, lá em  cima, o diamante do sol!
Montado num besouro
De asas de laca arabescadas de ouro,
O visionário anão, filho dos gênios do ar, subiu ao cimo das montanhas,
Mas viu que o sol  descera das montanhas
E, boiava no mar.
E o anãozinho verde, que vivia
Na concha furta cor de um caracol,
Desceu dos montes, ao findar do dia,
Para ir buscar, lá em baixo, o diamante do sol!
Ao chegar junto à praia, onde as sereias
Brincavam com búzios de ouro, nas areias,
Ele viu, pobre cego da ilusão!
Que o sol descia pelas águas, dentro
Do encapelado oceano espumarento,
Rodopiando como um pião.
E o anãozinho verde que vivia,
Na concha furta-cor de um caracol,
Descendo ao mar. Morreu na água sombria,
Tão distante da luz! Tão distante do sol!...
Theodorick de Almeida : Ouro, Incenso e Myrrha, 1931