quarta-feira, 4 de maio de 2016






     
O ANÃOZINHO VERDE

Um anãozinho verde que vivia
Na concha fura-cor de um caracol,
Subiu pelas montanhas, certo dia,
Para ir buscar, lá em  cima, o diamante do sol!
Montado num besouro
De asas de laca arabescadas de ouro,
O visionário anão, filho dos gênios do ar, subiu ao cimo das montanhas,
Mas viu que o sol  descera das montanhas
E, boiava no mar.
E o anãozinho verde, que vivia
Na concha furta cor de um caracol,
Desceu dos montes, ao findar do dia,
Para ir buscar, lá em baixo, o diamante do sol!
Ao chegar junto à praia, onde as sereias
Brincavam com búzios de ouro, nas areias,
Ele viu, pobre cego da ilusão!
Que o sol descia pelas águas, dentro
Do encapelado oceano espumarento,
Rodopiando como um pião.
E o anãozinho verde que vivia,
Na concha furta-cor de um caracol,
Descendo ao mar. Morreu na água sombria,
Tão distante da luz! Tão distante do sol!...
Theodorick de Almeida : Ouro, Incenso e Myrrha, 1931

sábado, 30 de abril de 2016

Costurando Palavras: Fotos

Costurando Palavras: Fotos: Alessandra e Gabriel de Rondonópolis/MT     Evelise de Campo Grande/MS     Autografando em Fortaleza-CE 08/03/2013   ...

DONA FELICIDADE


DONA FELICIDADE             (Theoderick de Almeida)

Dona felicidade é uma velhinha,
     Tão velha como o destino,
Que mora numa velha capelinha,
     De uma só porta e só de um sino!
Dizem que é feiticeira:
Que toda sexta-feira
Monta à vassoura e vai para o sabbat...
E aparece aos mancebos, nas estradas,
Como as boêmias Willis encantada,
Prometendo tesouros que não dá.
Entretanto eu me lembro, quando criança,
Minha avó não cansava de contar:
“Dona felicidade é a Santa da Esperança.
Cabelos de ouro e de olhos cor do mar...”
Mas, pelo tempo que ela foi gerada,
_ Antes do paraíso de Moisés,
Hoje, deve estar toda encarquilhada,
Cabelos brancos, arrastando os pés!
Dona Felicidade é uma velhinha
    Tão velha como o destino,
Que mora numa capelinha
    De uma só porta e só de um sino!
Ela é boa senhora. Se hoje em dia
Não abre a sua porta a qualquer peregrino,
       Como outrora fazia,
Conforme a lenda do melhor destino,
É que está cega,  surda e já não anda
De tão velhinha que ela está.
Apesar disto, a Bíblia sempre manda:
 “Batei... batei que se vos abrirá.”

“Batei...batei que se vos abrirá.”



 (DO livro Ouro Incenso e Myrrha de Teodorick de Almeida 1931)