domingo, 7 de abril de 2013

A Fome do Fogo.




 Anda a ler, vagarosamente, no ritmo do si-mesma, “Correspondências de Clarice Lispector”.
 Gosta de cartas. Tanto de lê-las quanto de recebê-las.
 Numas,  sujeito ,em outras, objeto. Vai de mim e volta para mim.
 São os lugares que ocupa: Ego mei mihi me me.
 Acha isso curioso.
 Lamenta o destino de quase todas as cartas recebidas ou remetidas.
 Quanto se perdeu ali?  Perdeu-se tanto!
 O fogo queimou? Não apagou?
 Apagaram-se pelo fogo as labaredas....
 Imagina-se lendo a linguagem das labaredas. Somente isso.
As labaredas, que  deseja traduzir, desconhecem  limitações da linguagem.
Limitações fronteiriças a um lugar outro, fronteiriço ao  incognoscível, ao estrangeiro.
Uma vez lhe foi dito: destruir as cartas  pela possibilidade de profanação.
E por assim ter pensado, fez delas um fogaréu , que até espanto  causou.
Não entendera ainda que só se profanavam os santos.
Queimou-se o sagrado  já sido?
Terá cometido heresia?
A fome do fogo: festança de fantasmas faceiros...
      (tão apenas e somente)