terça-feira, 24 de dezembro de 2013
terça-feira, 3 de dezembro de 2013
domingo, 17 de novembro de 2013
quinta-feira, 31 de outubro de 2013
Alquimia das Palavras
A alcunha de “bruxo”, diz-se, Machado de Assis recebeu pela primeira vez de outro criador de mesma grandeza, Carlos Drummond de Andrade, que lhe dedicou um longo poema. :
volúpia do aborrecimento?
ou, grande lascivo, do nada?
a fenda necessária;
onde o diabo joga dama com o destino,
estás sempre aí, bruxo alusivo e zombeteiro,
que resolves em mim tantos enigmas.
envolves-te na capa,
e qual novo Ariel, sem mais resposta,
sais pela janela, dissolves-te no ar.
A UM BRUXO, COM AMOR
Em certa casa da Rua Cosme Velho
(que se abre no vazio)
venho visitar-te; e me recebes
na sala trajestada com simplicidade
onde pensamentos idos e vividos
perdem o amarelo
de novo interrogando o céu e a noite.
Outros leram da vida um capítulo, tu leste o livro inteiro.
Daí esse cansaço nos gestos e, filtrada,
uma luz que não vem de parte alguma
pois todos os castiçais
estão apagados.
Daí esse cansaço nos gestos e, filtrada,
uma luz que não vem de parte alguma
pois todos os castiçais
estão apagados.
Contas a meia voz
maneiras de amar e de compor os ministérios
e deitá-los abaixo, entre malinas
e bruxelas.
Conheces a fundo
a geologia moral dos Lobo Neves
e essa espécie de olhos derramados
que não foram feitos para ciumentos.
maneiras de amar e de compor os ministérios
e deitá-los abaixo, entre malinas
e bruxelas.
Conheces a fundo
a geologia moral dos Lobo Neves
e essa espécie de olhos derramados
que não foram feitos para ciumentos.
E ficas mirando o ratinho meio cadáver
com a polida, minuciosa curiosidade
de quem saboreia por tabela
o prazer de Fortunato, vivisseccionista amador.
Olhas para a guerra, o murro, a facada
como para uma simples quebra da monotonia universal
e tens no rosto antigo
uma expressão a que não acho nome certo
(das sensações do mundo a mais sutil):volúpia do aborrecimento?
ou, grande lascivo, do nada?
O vento que rola do Silvestre leva o diálogo,
quem o pede ao crepúsculo da tarde?
Uma presença, o clarineta,
vai pé ante pé procurar o remédio,
mas haverá remédio para existir
senão existir?
e porventura o de amar
não se sabe a quem, mas amar?
e o mesmo som do relógio, lento, igual e seco,
tal um pigarro que parece vir do tempo da Stoltz e do gabinete Paraná,
mostra que os homens morreram.
A terra está nua deles.
Contudo, em longe recanto,
a ramagem começa a sussurar alguma coisa
que não se estende logo
a parece a canção das manhãs novas.
Bem a distingo, ronda clara:
É Flora,
com olhos dotados de um mover particular
ente mavioso e pensativo;
Marcela, a rir com expressão cândida (e outra coisa);
Virgília,
cujos olhos dão a sensação singular de luz úmida;
Mariana, que os tem redondos e namorados;
e Sancha, de olhos intimativos;
e os grandes, de Capitu, abertos como a vaga do mar lá fora,
o mar que fala a mesma linguagem
obscura e nova de D. Severina
e das chinelinhas de alcova de Conceição.
A todas decifrastes íris e braços
e delas disseste a razão última e refolhada
moça, flor mulher flor
canção de mulher nova…
E ao pé dessa música dissimulas (ou insinuas, quem sabe)
o turvo grunhir dos porcos, troça concentrada e filosófica
entre loucos que riem de ser loucos
e os que vão à Rua da Misericórdia e não a encontram.
O eflúvio da manhã,quem o pede ao crepúsculo da tarde?
Uma presença, o clarineta,
vai pé ante pé procurar o remédio,
mas haverá remédio para existir
senão existir?
E, para os dias mais ásperos, além
da cocaína moral dos bons livros?
Que crime cometemos além de vivere porventura o de amar
não se sabe a quem, mas amar?
Todos os cemitérios se parecem,
e não pousas em nenhum deles, mas onde a dúvida
apalpa o mármore da verdade, a descobrira fenda necessária;
onde o diabo joga dama com o destino,
estás sempre aí, bruxo alusivo e zombeteiro,
que resolves em mim tantos enigmas.
Um som remoto e brando
rompe em meio a embriões e ruínas,
eternas exéquias e aleluias eternas,
e chega ao despistamento de teu pencenê.
O estribeiro Oblivion
bate à porta e chama ao espetáculo
promovido para divertir o planeta Saturno.
Dás volta à chave,envolves-te na capa,
e qual novo Ariel, sem mais resposta,
sais pela janela, dissolves-te no ar.
domingo, 22 de setembro de 2013
Primavera
Faço de mim a primavera
Faço-me primavera
Fazes de ti primavera
Não é nas primaveras que os outonais florescem ... ?
...em meio às relvas, gramíneas, macias,
...úmidas tímidas ansiosas vorazes.
A brisa se deixa brizar-se:
a da esperança,
de estar a chegar
o
chegar ao paraíso.
Oxalá! Iemanjá!
foto: trabalhos em metal expostos no aeroporto de BH carmen/2012
sexta-feira, 19 de julho de 2013
quinta-feira, 18 de julho de 2013
sábado, 13 de julho de 2013
terça-feira, 11 de junho de 2013
arroz pra passarinho: MEMORIA
arroz pra passarinho: MEMORIA: Memória Amar o perdido deixa confundido este coração. Nada pode o olvido contra o sem sentido apelo do Não. As coisa...
MEMORIA
Memória
Amar o perdido
deixa confundido
este coração.
Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.
As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão
Mas as coisas findas
muito mais que lindas,
essas ficarão.
sábado, 18 de maio de 2013
sábado, 11 de maio de 2013
SE AS COISAS FOSSEM MÃES
Se as coisas fossem Mães Sylvia Orthof
Se a lua fosse mãe, seria mãe das estrelas,
O céu seria sua casa, casa das estrelas belas.
Se a sereia fosse mãe, seria mãe dos peixinhos,
O mar seria um jardim e os barcos seus caminhos.
Se a casa fosse mãe, seria a mãe das janelas,
Conversaria com a lua sobre as crianças-estrelas,
Falaria de receitas, pastéis de vento, quindins,
Emprestaria a cozinha pra lua fazer pudins!
Se a terra fosse mãe, seria mãe das sementes,
pois mãe é tudo que abraça, acha graça e ama a gente.
Se uma fada fosse mãe, seria a mãe da alegria.
Toda mãe é um pouco fada... Nossa mãe fada seria.
Se uma bruxa fosse mãe, seria mamãe gozada:
Seria a mãe das vassouras, da Família Vassourada!
Se a chaleira fosse mãe, seria a mãe da água fervida,
Faria chá e remédio para as doenças da vida.
Se a mesa fosse mãe, as filhas, sendo cadeiras,
Sentariam comportadas, teriam “boas maneiras”.
Cada mãe é diferente: Mãe verdadeira, ou postiça, mãe-vovó, mãe titia,
Maria, Filó, Francisca, Gertrudes, Malvina, Alice, toda mãe é como eu disse.
Dona Mamãe ralha e beija,
Erra, acerta, arruma a mesa, cozinha, escreve, trabalha fora,
Ri, esquece, lembra e chora, traz remédio e sobremesa.
Tem até pai que é “tipo-mãe”...
O céu seria sua casa, casa das estrelas belas.
Se a sereia fosse mãe, seria mãe dos peixinhos,
O mar seria um jardim e os barcos seus caminhos.
Se a casa fosse mãe, seria a mãe das janelas,
Conversaria com a lua sobre as crianças-estrelas,
Falaria de receitas, pastéis de vento, quindins,
Emprestaria a cozinha pra lua fazer pudins!
Se a terra fosse mãe, seria mãe das sementes,
pois mãe é tudo que abraça, acha graça e ama a gente.
Se uma fada fosse mãe, seria a mãe da alegria.
Toda mãe é um pouco fada... Nossa mãe fada seria.
Se uma bruxa fosse mãe, seria mamãe gozada:
Seria a mãe das vassouras, da Família Vassourada!
Se a chaleira fosse mãe, seria a mãe da água fervida,
Faria chá e remédio para as doenças da vida.
Se a mesa fosse mãe, as filhas, sendo cadeiras,
Sentariam comportadas, teriam “boas maneiras”.
Cada mãe é diferente: Mãe verdadeira, ou postiça, mãe-vovó, mãe titia,
Maria, Filó, Francisca, Gertrudes, Malvina, Alice, toda mãe é como eu disse.
Dona Mamãe ralha e beija,
Erra, acerta, arruma a mesa, cozinha, escreve, trabalha fora,
Ri, esquece, lembra e chora, traz remédio e sobremesa.
Tem até pai que é “tipo-mãe”...
domingo, 7 de abril de 2013
A Fome do Fogo.
Anda a ler, vagarosamente, no ritmo do si-mesma,
“Correspondências de Clarice Lispector”.
Gosta de cartas. Tanto de lê-las
quanto de recebê-las.
Numas, sujeito ,em outras, objeto. Vai de mim e volta
para mim.
São os lugares que ocupa: Ego mei mihi me me.
Acha isso
curioso.
Lamenta o destino de
quase todas as cartas recebidas ou remetidas.
Quanto se perdeu
ali? Perdeu-se tanto!
O fogo queimou? Não apagou?
Apagaram-se pelo
fogo as labaredas....
Imagina-se lendo a linguagem das labaredas. Somente isso.
As labaredas, que deseja traduzir, desconhecem limitações da linguagem.
Limitações fronteiriças a um lugar outro, fronteiriço ao incognoscível, ao estrangeiro.
Uma vez lhe foi dito: destruir as cartas pela possibilidade de profanação.
E por assim ter pensado, fez delas um fogaréu , que
até espanto causou.
Não entendera ainda
que só se profanavam os santos.
Queimou-se o
sagrado já sido?
Terá cometido heresia?
A fome do fogo: festança de fantasmas faceiros...
segunda-feira, 25 de março de 2013
O jarrinho
Levava eu um jarrinho
P'ra ir buscar vinho
Levava um tostão
P'ra comprar pão:
E levava uma fita
Para ir bonita.
Correu atrás
De mim um rapaz:
Foi o jarro p'ra o chão,
Perdi o tostão,
Rasgou-se-me a fita...
Vejam que desdita!
Se eu não levasse um jarrinho,
Nem fosse buscar vinho,
Nem trouxesse uma fita
Pra ir bonita,
Nem corresse atrás
De mim um rapaz
Para ver o que eu fazia,
Nada disto acontecia.
Fernando Pessoa
terça-feira, 15 de janeiro de 2013
sábado, 12 de janeiro de 2013
maria-farinha
21:26:31
sábado, 12 de janeiro de 2013
gosto palavras
o sabor que tragam,
( a)os olhos
(a)os ouvidos
lábios
pele
assim
vento e incenso ,
penumbra vaga lume
brilho de plânctum
brisinha de beira
–mar.
E uma Maria-farinha a
correr espaforida:
Uf uf uf ........ e
encravar-se na maciez granulosa da areia..
sexta-feira, 11 de janeiro de 2013
PAPO DE ANJO
_ São Damião era são damiinho
ou Santo Agostinho era um santo agostão?
_São Sebastião era um são sebastinho
ou São Valentim era um são valentão?
_São Salomão era um são salaminho
ou São Balalão era um são balãozinho?
_São pelos São Paulos que os santos santinhos
ou são pelos São Pedros que os santos são são?
Brincadeiras de Anjo / Antonio Barreto / ilustrações May Shuravel
_ São Damião era são damiinho
ou Santo Agostinho era um santo agostão?
_São Sebastião era um são sebastinho
ou São Valentim era um são valentão?
_São Salomão era um são salaminho
ou São Balalão era um são balãozinho?
_São pelos São Paulos que os santos santinhos
ou são pelos São Pedros que os santos são são?
Brincadeiras de Anjo / Antonio Barreto / ilustrações May Shuravel
quarta-feira, 9 de janeiro de 2013
SociedadeO homem disse para o amigo:
— Breve irei a tua casa
e levarei minha mulher.
O amigo enfeitou a casa
e quando o homem chegou com a mulher,
soltou uma dúzia de foguetes.
O homem comeu e bebeu.
A mulher bebeu e cantou.
Os dois dançaram.
O amigo estava muito satisfeito.
Quando foi hora de sair,
o amigo disse para o homem:
— Breve irei a tua casa.
E apertou a mão dos dois.
No caminho o homem resmunga:
— Ora essa, era o que faltava.
E a mulher ajunta: — Que idiota.
— A casa é um ninho de pulgas.
— Reparaste o bife queimado?
O piano ruim e a comida pouca.
E todas as quintas-feiras
eles voltam à casa do amigo
que ainda não pôde retribuir a visita.
Carlos Drummond de Andrade, in 'Alguma Poesia'
— Breve irei a tua casa
e levarei minha mulher.
O amigo enfeitou a casa
e quando o homem chegou com a mulher,
soltou uma dúzia de foguetes.
O homem comeu e bebeu.
A mulher bebeu e cantou.
Os dois dançaram.
O amigo estava muito satisfeito.
Quando foi hora de sair,
o amigo disse para o homem:
— Breve irei a tua casa.
E apertou a mão dos dois.
No caminho o homem resmunga:
— Ora essa, era o que faltava.
E a mulher ajunta: — Que idiota.
— A casa é um ninho de pulgas.
— Reparaste o bife queimado?
O piano ruim e a comida pouca.
E todas as quintas-feiras
eles voltam à casa do amigo
que ainda não pôde retribuir a visita.
Carlos Drummond de Andrade, in 'Alguma Poesia'
terça-feira, 8 de janeiro de 2013
Encaixotando livros.
E deixar virem as ideias com esse
encaixotar a brincar. No entanto, urge bem lá no íntimo O desejo de Desapego.
Não de jogar fora, ou de esconder para sabe-se-lá- quando- achar- sem-
procurar,( como queria Picasso:. “Não procuro, acho!”Verdade dita pelo gênio é
também a verdade singular de cada um. E será? que cada um sabe mais do que ninguém
achar a própria verdade nua, cru, translúcida?.(Há sempre que se deixar um
lugar para a Dúvida).Um desapego reinventado....
Talvez queira chegar longe demais.
Não apenas um longe que se da ver.
E sim, o mais longe, que ainda não se deixa ver.
Pregnância- preguiça.
A trilha dos desapegos se insinua sinuosa.
terça-feira, 8 de janeiro de 2013
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